CARTA DO SERTÃO
Estamos naturalmente perdidos a cada dia no país, tentando encontrar perspectivas menos apocalípticas enquanto nos sabemos cada vez mais chafurdados numa realidade apocalíptica. Por um lado, cresce nosso desejo de nomear culpados por tudo que temos sofrido, chorado, sangrado e morrido, mas, por outro lado, também cresce nosso desejo de apenas encontrar uma solução para o problema e seguir vivendo.
No fundo, sabemos o quão débil é procurar um culpado apenas para a Pandemia em curso, tanto quanto o é procurar um culpado para quaisquer coisas que acontecem em sociedade, das mais simples às mais complexas. A sociedade é integralmente responsável por tudo que acontece em sociedade, não uma pessoa, mas todas, a começar por aquelas omissas, que sempre se calam, que sempre se isentam, que sempre se anulam.
São mais de 300 mil mortos, segundo dados do consórcio dos meios hegemônicos de comunicação no país, mas já são mais de 400 mil mortos, segundo dados de pesquisadores da Fiocruz em parceria com Usp, Harvard, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) e outras importantes Universidades brasileiras.
A FGV (Fundação Getúlio Vargas) colabora para que percebamos esse apocalipse em perspectiva econômico-social, para além de uma perspectiva maniqueísta, revelando neste fim de março o impacto da Pandemia sobre os pobres. São 27 milhões de pessoas atiradas à pobreza extrema no pais até agora em razão, especialmente, do fim do investimento social, o chamado “auxílio emergencial”, o que, por si só, explica por que tanta gente pobre está adoecendo e morrendo.
A lucidez mínima neste momento consiste em perceber que a situação de pobreza se coloca como causa, não como consequência da Pandemia, que, antes de ser vítima da Covid 19, grande parte dessas milhares de vidas foi vitimada pela pobreza. Com milhões de pobres sobrevivendo ao longo da história em condições subumanas, sem segurança alimentar e saneamento básico, sem assistência de saúde curativa eficaz, tampouco preventiva, sem oportunidade de trabalho, o que poderíamos esperar?
Países desenvolvidos, partícipes do chamado “primeiro mundo”, podem lidar com a Pandemia como um problema circunstancial, como algo que surgiu agora e para o agora, uma crise pontual de saúde pública, um ponto fora da curva em seu histórico de saúde pública. O Brasil precisa lidar com uma perspectiva histórico-social sobre essa situação, perceber seus fundamentos em toda uma tradição de descuidado com o espaço público e irresponsabilidade com a vida da maioria da população.
Só o fato de a Pandemia constituir um monstruoso ativo para elites sanguinárias, que operam no momento uma Economia Política da Morte, é que explica tanta gente morrendo de fome antes de ter a causa da sua morte lavrada como Covid 19. A nação, que são as pessoas que se responsabilizam pelo país, precisa agir contra a causa da fome que turbina a Pandemia, contra a pobreza, contra a miséria. Precisa, mais do que nunca, seguir o exemplo de um dos mais notáveis sertanejos: o Sociólogo Herbert José de Sousa (1935-1997), o Betinho, nascido em Bocaiúva, Norte de Minas Gerais, responsável pela Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e pela Vida, um dos Movimentos Sociais mais importantes do século XX.
A eficácia de ações de combate à fome e à miséria passa necessariamente pelo terceiro setor, pelas Organizações Não-Governamentais, com seu compromisso humanitário. Conheça os projetos do Instituto Daghobé. Dê sua fundamental contribuição. Ajamos! Sempre Riobaldo: Deus esteja!
Prof. Anelito de Oliveira
Presidente do Instituto de Desenvolvimento Humano Daghobé