CARTA DO SERTÃO 15-02

A Pandemia provocada pelo coronavírus impôs um salutar movimento de volta pra casa não apenas no plano individual e operacional, mas também no plano coletivo e simbólico, das relações objetivas e subjetivas. O distanciamento social é atitude básica para se evitar o contágio pela doença, mas também para um necessário devir reflexivo da comunidade humana.
Este primeiro feriado de carnaval pandêmico acentua ainda mais essa situação muito paradoxal, sem dúvida, com o amparo de medidas legais acionadas por órgãos de poder público, prefeituras e Governos. A subversão dessas medidas é fato deplorável que estamos testemunhando por toda parte, sobretudo nos maiores aglomerados urbanos do país, como Rio de Janeiro e São Paulo.
A conclusão elementar que se pode tirar em face dos bailes genocidas, com suas multidões de jovens sem qualquer preocupação de contaminar ou ser contaminado pelo coronavírus, é que responsabilidade social é diretamente proporcional a humanidade. A desumanização do mundo se agiganta quando falta responsabilidade social, o homem se revela absurdamente lobo do seu semelhante porque já não se reconhece no lugar do humano.
A obra social do nosso Instituto Daghobé passa fundamentalmente pela recordação e defesa desse lugar como estruturante de todos os demais lugares da vida social. Sem humanidade não há sentido em falar em bens de qualquer espécie, como o bem prazer carnal que alimenta a noção adulterada de carnaval tal como se consolidou em países como o Brasil. Festa da carne é apologia da desumanização num mundo faminto de saúde, atormentado por uma família de vírus letal.
Nosso dever neste momento é ficar em casa nos muitos sentidos dessa palavra – casa – que nos remontam ao “oikos” dos antigos gregos: família, organização, lar. O “oikos” articulado ao “nomos” – lei, norma, regra – funda o que entendemos por Economia. Ficar em casa neste momento equivale a contribuir para a instauração de uma nova economia do humano contra a velha economia da desumanização que nos colocou na situação atual, doentes, acometidos principalmente pelo vírus da ignorância.
O sertão, esse vasto território que constitui o Brasil profundo, sempre exportou humanidade para o Brasil litorâneo, superurbanizado, crescido economicamente em razão do monopólio por suas elites do PIB produzido por todos nós brasileiros. Neste momento, essa exportação ainda é mais importante na forma de responsabilidade social, de combate aos negacionismos estúpidos, de defesa da vacinação obrigatória, imediata e democrática. Sempre Riobaldo: Deus esteja!

Prof. Dr. Anelito de Oliveira
Presidente do Instituto de Desenvolvimento Humano Daghobé

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